quinta-feira, 12 de abril de 2007

Raça e Racismo aqui e la'.

Está mais uma vez pegando fogo a discussão do que é ou não é um comentário racista nos Estados Unidos. Isso porque um apresentador da NBC, Don Imus, caracterizou as moças do time de basquete da Universidade de Rutgers, negras, como “nappy-headed hos”, o que seria algo como, cabelo pixaim. Veja no New York Times">. No programa de hoje cedo da Diane Rehm, na National Public Radio (NPR), houve uma mesa redonda sobre o caso e deu até um pseudo bate boca. O contra-ponto foi o seguinte. De um lado: Então nunca poderá ser feito comentário sobre nenhum grupo, especificamente, negros? Vamos chegar a um ponto em que nao haverá mais "material" para programas humorísticos? Não poderemos mais falar de nada nem de ninguém. Será uma censura total. Além disso, quando são feitos comentários desse tipo em relação a brancos, judeus, etc, etc, ninguém é mandado embora. Do outro lado: Este foi um comentário duplamente racista e preconceituoso: mulher e negros. E aí? Tem de cancelar o programa e tudo o mais. Temos sim que ficar alerta a esse tipo de comentário racista porque, afinal de contas, essas são minorias tradicionalmente discriminadas e, caso nao as "protejamos", desigualdades já existentes serão perpetuadas.

O tom era. E aí? Onde fica a linha entre poder "fazer graça", o racismo, o preconceito e o desrespeito? Seria censura? Acredito que temos sim de sanar as desigualdades e preconceitos existentes nas sociedades, e nao exacerbá-los. Isso vale principalmente para a mídia. Comentários como o feito pelo apresentador da NBC servem apenas para fazer o contrário: separar ainda mais as minorias e reforçar estereotipos. Entretanto, concordo que vale o cuidado para que a censura nao tome conta do que cada um diz. Mas vale ressaltar que a diferença crucial é a natureza racista do comentário. Racismo vem da idéia de se perpetuar desigualdades e condições inferiores advindas de uma estrutura social e econômica desfavorável. Falando em termos do meu trabalho, se tentamos estimar a renda usando características como nível de escolaridade, ocupação (ou seja, determinantes tradicionais da renda de um indíviduo) e raça, os resultados mostram um efeito significativo da raça ainda que levado em conta o efeito de escolaridade e ocupação. Existe uma desvantagem tanto em educação como em renda dos negros em relação aos brancos. Como interpretar? A análise quantitativa deixa evidente que essa desigualdade existe, mas nao dá margem para explicarmos as razões dessa desvantagem, mas podemos, sem sombra de dúvida, especular sobre o racismo no mercado de trabalho e em outros cantos da sociedade. É dessa desvantagem estrutural que estamos falando quando falamos de racismo. E por isso o comentário parece ser tao perigoso.

Fiquei pensando... e no Brasil, onde estamos em relação a essa questão. E se isso tivesse acontecido no Brasil? Qual seria o teor da discussão? Por um lado, Casseta e Planeta faz esse tipo de piada todo dia. Por outro, o recente episódio com a ministra Matilde Ribeiro (veja discussão excelente no blog Biscoito Fino e a Massa)
reacende a questão do que é o racismo. Ela disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco" e foi detonada por todos os lados. Entretanto, concordo com o Blog do Idelber que racismo advém de estrutura social de desvantagem e dessa desvantagem homem branco nunca experimentou. Entao é diferente sim e merece ser tratado de maneira diferente.

E você, o que pensa?

Um comentário:

Fernando L Lara disse...

Le,

eu acho essa discussao muito pertinente. Onde colocar o limite entre a liberdade de expressao e o fato de que a as piadas sao um instrumento sutil de reforcar a ideia de exclusao e nao-pertencimento. Um mundo sem piada seria muito chato mas um mundo sem a ideia de que uns valem mais que outros eh cada vaz mais urgente.