sábado, 10 de novembro de 2007

Caetano Veloso.


Confesso que passei bastante tempo com preguiça de Caetano.

A época da faculdade foi de total fascínio por ele e suas músicas. Quem não passou por isso? O Quereres era, para mim, a explicação da tranqueira amorosa que todos passamos algum dia. Circuladô é um disco maravilhoso, desde o álbum ao show. Usei todas as minhas economias na época para assistí-lo no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Uma pequena fortuna. Depois veio Tropicália 2 com o Gil e eu concordava que o Haiti era mesmo ali. Bem, passada essa fase de fascínio, veio uma preguiça tão grande, mas tão grande que eu parei de ouvi-lo por uns bons anos. A preguiça era mais da pessoa que da música, mas não conseguia dissociar uma da outra. Caetano fala demais e de tudo. Até aí tudo bem, também falo muito. Mas o que é pior, dá palpite em tudo e de uma forma bem Caetano, se é que me entendem, bem centro das atenções. Essa fase coincidiu com uma certa mesmice musical de Caetano e não conseguia achar muita graça no álbum Livro e em nenhum outro que veio depois de Circuladô. Nem o álbum em espanhol me impressionou muito.

Toda essa sensação de preguiça e mesmice acabou de vez ontem a noite ao assistir o novo espetáculo de Caetano, no Hill Auditorium, aqui em Ann Arbor. Já tínhamos o CD há alguns meses e aquele novo estilo já estava me conquistando. Mais inovador, diferente da maior parte do que tinha feito antes. As músicas são fortes e agressivas e parecem refletir seu momento de vida durante a separação. Aquelas músicas já estavam me agradando muito mas ao vê-lo no palco ontem voltei a ser uma fã incondicional... Por duas horas, Caetano cantou blues, bossa nova, samba, rock & roll, em português, inglês e espanhol. O repertório não poderia ter sido melhor. Claro, todas do álbum novo mais London London, Desde que o Samba é Samba, O Homem Velho, Fora da Ordem, Coração Vagabundo, entre várias outras. Até Leãozinho para relembrar dos velhos tempo teve no bis. Entre as musicas novas, adorei as interpretações de Musa Híbrida e Odeio Você. Alias, que catarse maravilhosa cantar o ódio-amor que existe nessa musica. Quem não odeia a quem se ama de vez em quando? Uma batida mais pesada, bem vanguarda e um Caetano cheio de vontade de estar ali, alegre, pulando sem parar por 2 horas, correndo no meio do publico e esbanjando energia. Um show de luzes bem pensado, uma banda jovem, releitura de clássicos e músicas novas. No meio do show, ele diz algo assim: “No Brasil sou conhecido por falar demais, o que me perguntam eu respondo, acabo sendo muito criticado por isso, mas quer saber, não estou nem aí, I don’t care. Falo tanto, mas tanto que durante a última eleição presidencial consegui desagradar a direita e a esquerda, se é que esses termos ainda existem.” Achei tudo muito bom, muito lúcido e fiquei pensando como ele teve o poder de se re-inventar, inovar e ainda por cima curtir estar ali com tanta vontade e energia. Uma noite memorável mas, para mim, acima de tudo, uma noite que colocou Caetano definitivamente de volta na minha trilha sonora atual.

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Letícia, eu nunca tive uma fase Caetano... Vejo vc falando dele e admiro seu conhecimento da nossa música.
Ele tb se apresentou aqui mas não vi ninguém descrever o show assim tão bem como vc.

Eu adoraria que meu filho aprenda a gostar de música brasileira. Eu me considero bem ignorante nesse aspecto...

bjs

Andréa disse...

Excelente post! E eu ADORO o Caetano. :)

A Dona do Bloguinho disse...

Pôxa, eu também nunca tive uma fase Caetano. Mas tive uma fase GIl e vi u show dele espetacular quando eu tinha 19 anos, como tooodos os meus amigos.

Bjs!

Leticia. disse...

Ja' eu tive uma fase Caetano pesada e suspeito que ela esta' de volta com forca total. Descobri (ou redescobri) cada musica linda antiga.