Procurávamos uma viagem rápida durante o
Spring Break, feriado de uma semana em que não damos aula. Pensamos em 5 dias, em um lugar quente, sem gastar muito, e queríamos uma piscina ou praia. A opção Orlando tornou-se imbatível: barato, a um vôo sem escala de 2 horas de distância de casa e quente. Eu pensei, se ficamos 5 dias, podemos visitar a Disney um dia. O marido anti-Disney não queria ir de jeito nenhum, mas acabou cedendo. Afinal, temos uma flor de 4 anos e achei que valeria a pena que ela brincasse no parque, embora não consiga entender a graça daquilo para maiores de 18 anos que podem pegar a mesma grana e visitar Nova Yorque ou São Francisco, por exemplo. O resultado?
Valeu. Mas não pelas razoes óbvias e sim pelo brincar, simplesmente pelo brincar.
Não jantamos com a Cinderela em sua
Royal Table. Sim, você pode pagar mais uma fortuna além do ingresso e levar seu filho para jantar com a Cinderela, Mickey, Pateta, praticamente quem você quiser.
Não ficamos nos hotéis da Disney, nao completando assim nosso
Magical Day. Sim, tem hotel para todos os gostos no complexo Disney: se gosta de praia, tem um com praia e areia
fake imitando Polinésia. Se você se acha mais contemporâneo, pode ficar no hotel onde passa o
monorail que dá acesso aos parques. A idéia vendida é que você pode ser e fazer o que quiser sem precisar sair do complexo Disney.
Não compramos a Disney e trouxemos para casa. Sim, você sai de brinquedos como o do ursinho Puff e é obrigado a passar pela loja com o mundo do ursinho... Isso para não falar do mundo do rato mais famoso do planeta! Dá para viver só com acessórios Mickey, do tapete a escova de dentes. São essas estratégias maldosas e perversas para os pequenos que discordamos. Não que pensei que seria diferente, mas o apelo ao consumo – de idéias, de sonhos, de coisas – é muito maior do que eu imaginava, ou me lembrava, porque visitei o parque aos 15 anos. Mudei muito ou mudou o parque? Sim, o complexo parece ter crescido muito, mas acredito na primeira opção.
Valeu pelos brinquedos mais simples e pelos shows. O carrossel, uma espécie de trem-fantasma, os brinquedos de rodar, os filmes 3D e os shows com os personagens...
Mas na verdade não existe nada educativo na Disney. Está tudo pronto, não há espaço para a criatividade, apesar de se pregar a importância da imaginação todo o tempo. Se sua filha quer ser uma princesa, ela vai jantar com a Cinderela, passa pela loja e compra tudo de Cinderela e ainda tem a chance de visitar o salão para crianças onde o cabelo, maquiagem (sim, maquiagem!!!) e unha podem ser arrumados... Aliás, a megalomania da versão princesa da Disney é absolutamente horrorosa. Não, não sou contra crianças se vestirem de princesa, bailarina ou super-herói. Mas porque não criar a versão deles? Porque não usar a criatividade de fato e deixar com que eles inventem suas fantasias de princesas e bailarinas e super-heróis? Pega uma sapatilha de uma cor daqui, um collant de outra cor dali, arranja uma coisa para por no cabelo e vá dançar! Na Disney você é induzido a comprar o kit completo: vê a princesa, pede autógrafo (filas enormes!) compra a roupa, janta com ela, vai ao salão e quando vê, levou o pacote completo.
De certa maneira, o que a Disney oferece alem do fascínio das princesas e dos personagens de desenho animado é a facilidade do pacote completo, do conhecido, da satisfação garantida e imediata. Ir a Franca e se arriscar a falar um francês enferrujado ou ate não existente dá muito trabalho. Ir ao EPCOT e ver o pavilhão dos países -10 países de uma vez! – parece ser muito mais fácil. Afinal, para que conhecer a Torre Eifel de verdade se pode-se estar na Franca de manhã, almoçar nos Estados Unidos, passear pelo México à tarde, passando pelo Japão e jantando no Canadá? Também é fácil não ter que pensar onde comer ou o que fazer no dia seguinte. Consome-se tudo: das emoções sem risco da montanha russa à parafernália com as orelhinhas do Mickey. Tudo fácil, disponível, descartável. Mas onde fica o real? Onde estão as experiências de verdade? Onde está o mundo?
Vista como um parque de diversões a Disney vale uma visita, mas o pacote completo não dá espaço para mais nada. No fim das contas, quando perguntamos à flor o que mais gostou da viagem, ela foi implacável: de brincar e da piscina. Da próxima vez, vamos para a praia na Flórida brincar em carrossel de parque de diversão “normal” e ficar sem fazer nada! De verdade!